Os impasses ou dificuldades do SUS
Apesar dos seus inegáveis avanços, como atestam os números citados anteriormente, a
construção do SUS encontra vários entraves, entre os quais destacamos, para os propósitos do
presente texto, apenas dois, até porque eles com certeza impactam diretamente no seu trabalho
como membro de uma equipe de saúde da família: a) o subfinanciamento; b) as insuficiências
da gestão local do SUS.
a. O subfinaciamento, isso é, os recursos destinados à operacionalização e financiamento
do SUS, fica muito aquém de suas necessidades. Para Nelson Rodrigues dos Santos
(SANTOS, 2007), “a atualização do financiamento federal segundo a variação nominal
do PIB não vem sequer acompanhado o crescimento populacional, a inflação na saúde e
a incorporação de tecnologias. Mantém o financiamento público anual per capita abaixo
do investido no Uruguai, Argentina, Chile e Costa Rica e por volta de 15 vezes menor
que a media do praticado no Canadá, países Europeus, Austrália e outros. Também é
fundamental ter presente que a indicação de 30% do Orçamento da Seguridade Social
para a Saúde, como era previsto nas Disposições Constitucionais Transitórias (DCT) da
Constituição, era o mínimo para iniciar a implementação do SUS com Universalidade,
Igualdade e Integralidade. Se tivesse sido implementada tal medida, hoje haveria R$
106,6 bilhões para o financiamento do sistema e não aos R$ 48,5 bilhões aprovados para
o orçamento federal de 2008. O financiamento do SUS é marcadamente insuficiente,
a ponto de impedir não somente a implementação progressiva/incremental do sistema,
como e principalmente de avançar na reestruturação do modelo e procedimentos de
gestão em função do cumprimento dos princípios Constitucionais”. Para quem trabalha
na Estratégia da Saúde da Família, tal insuficiência é sentida, principalmente, quando
há necessidade de se acessar os outros níveis de maior complexidade do sistema, cuja
oferta parece sempre aquém das demandas.
Por outro lado, o autor destaca que “houve também a opção dos governos pela
participação do orçamento federal no financiamento indireto das empresas privadas de
planos e seguros de saúde por meio da dedução do IR, do co-financiamento de planos
privados dos servidores públicos incluindo as estatais, do não ressarcimento ao SUS
pelas empresas do atendimento aos seus afiliados, pelas isenções tributárias e outros,
que totalizada mais de 20% do faturamento do conjunto dessas empresas”.
b. As insuficiências da gestão local do SUS. A gestão municipal dos recursos do SUS
vem funcionando apenas em parte – sem desconsiderar que os recursos para o SUS são
insuficientes. A gestão municipal é idealizada pelo projeto da Reforma Sanitária Brasileira
como mais eficaz, porque “estaria mais próxima dos cidadãos” e mais sensível aos seus
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL
Especialização em Saúde da Família 41
anseios. O SUS denomina como “gestão local” conjunto de atividades desenvolvidas
pelos gestores municipais, visando a operacionalização, na prática e em seus contextos
sócio-político-institucionais singulares, das grandes diretrizes política do Sistema Único
de Saúde.
Pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal
de São Paulo realizaram recente pesquisa em 20 pequenos municípios de duas regiões de
saúde próximas a São Paulo. Por serem municípios pequenos, estes funcionaram como
um verdadeiro “laboratório” de observação das reais condições de operacionalização
em muitos municípios brasileiros, já que pouco mais de 80% dos municípios do país
têm menos de 20 mil habitantes. Vejamos alguns dados sobre a operacionalização real
do SUS mostrados pelo estudo (CECÍLIO et al., 2007):
• A baixa resolutividade da rede básica de serviços montada no país desde a década de
1980, mas acelerada nos anos 1990, fruto de uma gestão do cuidado desqualificada,
em particular pela realização de uma clínica degradada, pela baixa capacidade de
construção de vínculo e produção de autonomia dos usuários. Tem havido grande
dificuldade de produção de alternativas de cuidado ao modelo biomédico e sua
poderosa articulação com o complexo médico-industrial e acelerado processo de
incorporação tecnológica. Isso tem resultado em encaminhamentos desnecessários
e excessivos, e alimenta as filas de espera em todos os serviços de média e alta
complexidade, além de resultar na fragmentação dos cuidados prestados; na repetição
desnecessária de meios complementares de diagnóstico e terapêutica; numa perigosa
poliprescrição medicamentosa; na confusão e isolamento dos doentes, e inclusive na
perda de motivação para o trabalho por parte dos clínicos da rede básica.
Saiba Mais...
O modelo biomédico (Biomedicina) é construído a partir da forte ênfase e valorização
da materialidade anatomo-fisiológica do corpo humano e a possibilidade de se produzir
conhecimentos objetivos sobre seu funcionamento normal e suas disfunções, o que
permitiria “intervenções” para a volta à “normalidade”. Este seria o papel principal da
Medicina. Metaforicamente, podemos dizer que o corpo é pensado como uma “máquina”.
É inegável que a Medicina tecnológica mesmo operando com tal modelo “reducionista”
tem contribuído para uma formidável melhoria nos indicadores de saúde, inclusive
para o aumento da perspectiva de vida. No entanto, hoje temos a compreensão de que
é necessário operar com uma combinação mais complexa de saberes, enriquecida por
outras contribuições além da biomedicina (psicanálise, psicologia, ciências humanas,
saberes populares etc.), se quisermos ampliar no sentido de produzir um cuidado mais
integral.
• Os modelos assistenciais e consequentes modos de organização de processos de
trabalho adotados na rede básica de saúde têm resultado, quase sempre, em pouca
flexibilidade de atendimento das necessidades das pessoas e dificuldade de acesso.
COMENTÁRIO!!
Falam, mas poco fazem, dizem que tem hospitais suficientes para as pessoas, mas não tem. Quantas vezes cansei de ligar a TV e estar no jornal, pessoas reclamando que seus filhos ou pais morreram porque não tinha médicos ou aparelhos para usar nos pacientes. Todos os os anos falam que vão melhorar e construir hospitais, mas do que adianta construir e não ter médicos que trabalhem.
A falta de escolas também é outo problema, muitos professores faltam ou não tem aula. Eu fico esperando a mudança, fico esperando a conscientização dos políticos será que eles nunca vão cansar de tentar nos enganar, sera mesmo que vamos viver esperando o resto da vida um mundo melhor, só queremos dias melhores e não dias perfeitos.
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